terça-feira, 16 de setembro de 2014

Resenha: "Maus"

     

     Ler "Maus" foi pra mim, acima de tudo, um desejo realizado. Como a grande apaixonada por história que eu sempre fui, livros cuja temática remete à Segunda Guerra Mundial sempre me fascinaram. Contudo, após anos e anos de intensa exploração pela mídia deste mesmo tema, livros e filmes que o abrangem tendem a se tornarem repetitivos e entendiantes. Neste quesito, "Maus" foi uma feliz surpresa que eu recomendo a todos - mesmo aos que não gostam de explorar o passado.

     Sinopse Oficial:
     Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz, narrada por ele próprio ao filho Art. O livro é considerado um clássico contemporâneo das histórias em quadrinhos. Foi publicado em duas partes, a primeira em 1986 e a segunda em 1991. No ano seguinte, Maus ganhou o prestigioso Prêmio Pulitzer de literatura. Nas tiras, os judeus são desenhados como ratos e os nazistas ganham feições de gatos; poloneses não-judeus são porcos e americanos, cachorros. Esse recurso, aliado à ausência de cor dos quadrinhos, reflete o espírito do livro: trata-se de um relato incisivo e perturbador, que evidencia a brutalidade da catástrofe do Holocausto.

     Resenha:
     A história retrata por meio de quadrinhos a vida de Vladek Spiegelman, pai do autor, no período da Segunda Grande Guerra; porém, não é só essa mudança de gênero textual que nos surpreende. Vemos os personagens retratados como animais: os judeus, como ratos; os alemães, como gatos; os franceses, como sapos; os norte-americanos, como cães, e os poloneses como porcos. Esta escolha de representação curiosa não só ajuda o leitor a assimilar o que acontece durante o livro, mas também evidencia e reforça a mensagem passada por ele.
     Vladek e seu filho Art não são próximos; esta proximidade passa a acontecer a partir do momento em que Art decide a temática de seu novo livro. Para isso, ele precisa dos relatos do pai, um judeu polonês sobrevivente de Auschwitz. É durante esses encontros que Vladek vai contando, aos poucos, o que passou nesses longos anos de guerra, e é dessa forma que vemos a história se desenrolar.


     Apesar de eu, como a maioria, conhecer a ordem dos fatos e saber como cada decisão errada poderia acabar, Vladek me permitiu olhar para a guerra com outros olhos - com os olhos de um sobrevivente. E não qualquer sobrevivente; ao contar sua experiência, ele mostra como a sua inteligência e a sua capacidade de tomar a decisão certa, na hora certa, com os recursos certos, foram imprescindíveis para que saísse vivo. Seu talento para fazer negócios que o manteriam vivo, e que beneficiariam os que lhe fossem caros, é evidente - e frequentemente nos surpreende - em toda a obra.
     "Maus" revela-se um retrato fiel e intenso. Não há eufemismos, nem sobre a história, nem sobre a personalidade dos personagens. É impossível ler sem se emocionar, seja com o sofrimento dos judeus no decorrer dos anos, seja com o amor entre os pais de Art, Vladek e Anja - amor que, nas palavras do próprio Vladek, "só foi separado pela guerra", mas que, apesar de tudo, sobreviveu a ela.


     Uma história dolorosa e profunda, contada sem deixar a desejar. É impossível não sentir um vazio ao terminá-la - a representação em quadrinhos, perfeitamente detalhada, torna a leitura rápida. Confesso que demorei mais tempo do que devia analisando as ilustrações e absorvendo as sensações que elas me passavam. Apesar de já saber desde o início que Vladek sobreviveria, vibrei com cada decisão dele, e perdi algumas unhas me preocupando com o que aconteceria a seguir.
     Recomendo a todos, sem exceção. Aos amantes de história geral, de quadrinhos, das artes, ou simplesmente de uma boa leitura. Não importa qual seja seu gênero preferido: "Maus" vai prender sua atenção e marcar sua vida de algum jeito.

     Nota do Livro:


Título: Maus
Subtítulo: A História de Um Sobrevivente
Autor (a): Art Spiegelman
Editora: Companhia das Letras
Edição: 1
Pag: 296

Escrito por Juliana Corrêa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário